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Euler David de Siqueira

manto formal de relaçôes trabalhistas do mercado de trabalho, Obedeceriam a naturezas distintas.
Os trabalhadores em serviços construiriam sua auto-imagem de forma diferenciada dos demais
trabalhadores do setor produtivo. Dessa forma, variaveis, como sexo, raça, etnia, religiâo, moral,
poKtica, local de moradia, podem influenciar no proprio modo de como o trabalho e os homens se
vêem, agem, pensam e sentem. Nâo haveria mais interesses comuns no que se refere à esfera do
trabalho, mas interesses diversificados.

A diferenciaçâo da classe trabalhadora, com a divisâo entre trabalho em serviços e
trabalho produtivo, foge à questâo tradicional: como articular um grupo de trabalhadores como
classe que reivindica melhores salarios a partir do aumento de produtividade e outros que vêem
esse aumento como algo pernicioso ao conjunto do meio ambiente ou do uso de sua propria força
de trabalho? Conforme Offe (1994), o trabalho no setor produtivo, produtor de mais-valia, nâo
tende a se universalizar e nem poderia, contrariando a maior parte das teorias marxistas e da
economia classica. Haveria, ao contrario, uma tendência permanente e estrutural de
desmercantilizaçâo da força de trabalho, cabendo ao Estado um papel chave de manter o mercado
em funcionamento, dando corda no relogio de tempos em tempos nessa espécie de relogio. Mas
entre o trabalho em serviços e o produtivo, produz-se um diferencial qualitativo e estrutural
insuperavel. De um ponto de vista formal, ou seja, a forma de relaçâo social dos serviços como
contrato assalariado encobre sua verdadeira natureza. Trata-se de uma natureza que esta
descentrada do prin^pio de integraçâo produtiva.

Offe (1994) também se vale das concepçôes de Karl Polanyi a fim de mostrar como o
mercado livre auto-regulado seria o resultado de mecanismos exteriores ao proprio funcionamento
interno do mercado. Terra, dinheiro e força de trabalho seriam, portanto, mercadorias ficUcias. Isso
demonstra que nâo ha uma categoria abstrata, pura, padrâo de empregabilidade, determinadora
das demais dimensôes da vida social. É justamente o regulamento externo, via de regra, que pode
determinar a consciência e a açâo social e nâo o contrario. Isto quer dizer que, para que um
padrâo fosse criado, seria preciso que as demais dimensôes da vida social ficassem de fora. Ou
seja, seria preciso regular e precarizar a fim de formar o informal como formal. A partir de Offe
(1994), o capitalismo teve de criar toda uma série de impedimentos à reproduçâo dos indMduos
fora do mercado de trabalho, como destruir formas de produçâo domésticas e de acesso a terras
particulares como forma de impedir sua propria ruma.

As diferenças entre Mingione (1991) e Offe (1994) poderiam ser sintetizadas da seguinte
forma: para o primeiro, a fragmentaçâo da sociedade seria originada pelo comportamento das
trajetorias individuais das fam∏ias, que produzem infinitos arranjos mistos. E aqui nâo haveria a
interferência do Estado. Ja para o segundo, haveria uma polarizaçâo entre duas logicas distintas
que se contrapôem de forma insuperavel, pois a fragmentaçâo da classe trabalhadora seria
causada pelo funcionamento do mecanismo sistêmico do proprio mercado. Contudo, caberia ao
Estado equilibrar o sistema mantendo a produçâo e a extraçâo de mais-valia. A fragmentaçâo de
Mingione nâo teria um centro claro e definido, pois fragmentaçâo/pulverizaçâo pressupôe um nâo-
centramento. Em Offe (1994), também nâo ha centro, muito menos pulverizaçâo. Ha polarizaçâo
entre a logica dos serviços e a produtiva. A grande questâo da diferenciaçâo, segmentaçâo e
heterogeneizaçâo em Offe estaria ligada à forma como os produtores de serviços encontram-se
estruturados internamente por uma racionalidade propria, relativa ao uso do trabalho concreto que
irâo realizar para manter a ordem e a normalidade do setor produtivo de mais-valia. O que o setor
secundario e terciario teriam em comum seria o fato de formalmente, apenas formalmente, serem
estruturados por uma racionalidade com fins a eficiência técnica e econômica (açâo instrumental).
Algo similar ao que aconteceria quando Habermas (1987) defende a idéia que os sistemas auto-
regulados fazem com o mundo da vida. No entanto, o setor secundario é estruturado formalmente -
externamente e internamente - por uma mesma racionalidade, enquanto o setor de serviços seria
estruturado somente por essa logica do ponto de vista externo. Internamente, sua racionalidade é
relativa ao uso do trabalho concreto que realiza13.

13 É importante observar que quando o trabalho assalariado dependente cresce, ele se diferencia internamente. Sâo
necessarias diferentes formas de uso de trabalho concreto a fim de criar mecanismos de ordem e normalidade para o setor

Organizaçoes Rurais e Agroindustriais - v.6 - n.2 - julho/dezembro 2004

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