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RIBEIRO, E. C. B. & QUEDA, O.
Caracterizada por utilizar basicamente a força de
trabalho dos membros da familia. a produçao familiar
representa um segmento importante no campo brasileiro.
Ha municipios atendidos por projetos em que os
produtores familiares produzem para seu proprio consumo
e comercializam o excedente. Isso faz com que a renda
obtida circule no comércio local, aumentando a
arrecadaçao das prefeituras e gerando empregos diretos
e indiretos.
Essa é uma das vantagens da produçao familiar, o
estimulo à economia local, por meio de melhor distribuiçao
de renda, tornando-se um instrumente de political de
combate à pobreza e reduzindo as distâncias sociais
(CALDART, 2000).
Para Monte (1999), na economia familiar, a familia
constitui a unidade social de trabalho e exploraçao da
terra, sendo os produtos, em geral, utilizados para
satisfazer as necessidades essenciais da vida,
caracterizando-se a familia por ser ao mesmo tempo
unidade produtora e consumidora.
A transformaçao/beneficiamento de produtos e
subprodutos da produçao familiar coloca-se como uma
das mais importantes alternativas de promoçao de
desenvolvimento rural sustentavel. Muito utilizada para
conservaçao dos alimentos, autoprovisionamento das
familias e comercializaçao dos excedentes, ela é parte
da historia e da cultura desses agentes. A produçao de
alimentos minimamente processados passa a ser
encarada como uma alternativa determinante, em muitos
casos, para a propria realizaçao de inùmeras pequenas
propriedades (OLIVEIRA et al., 1999). Utilizando
tecnologias (equipamentos e instalaçoes) adaptadas, a
agroindùstria de pequeno porte proporciona meios
efetivos de manutençao do homem do campo. Situada
na propriedade agricola ou nas suas proximidades, tem
a capacidade de aumentar a renda das familias a ela
ligadas, pela agregaçao de valor aos produtos
agropecuarios; gerar postos de trabalho no meio rural;
abastecer os mercados locais e regionais, colocando
rapidamente à disposiçao dos consumidores produtos
de qualidade a preços compatfveis, além de elevar a
arrecadaçao municipal pelos impostos gerados
(MIRANDA, 1999). Soa estranho pensar e escrever
sobre o local quando so se fala em globalizaçao, blocos
econômicos e macropoliïicas. Na verdade, é preciso
entender que quanto mais a economia se globaliza mais
a sociedade tem também necessidades em criar suas
âncoras locais (CALDAS, 2001). Conforme nos lembra
Santos (1999, p. 10), a esperança
reside antes na possibilidade de criar campos de
experimentaçao social, onde seja possivel resistir
localmente às evidências da inevitabilidade, promovendo
com êxito alternativas que parecem utopicas em todos
os tempos e lugares, exceto naqueles em que ocorrem
efetivamente. Nao podemos nos conter com um
pensamento alternativo. Necessitamos de um
pensamento alternativo de alternativas. [...] na teoria
critica moderna foi sempre fundamental a idéia de espera,
pois so com esta atitude é possivel manter em aberto a
possibilidade de alternativas creditaveis [...].
A atividade agropecuaria é, reconhecidamente,
essencial para a produçao de alimentos e de produtos de
primeira necessidade para o bem-estar humano. Ela gera
inùmeros desafios. De maneira geral, esses desafios sao
colocados tanto para governos e sociedade como para os
produtores e podem ser considerados a partir de quatro
vertentes basicas (DUARTE, 1998):
a) desafio ambiental - o desafio consiste em buscar sistemas
de produçao agricola adaptados ao ambiente, de tal forma
que a dependência de insumos externos e de recursos
naturais nao-renovaveis seja minima;
b) desafio econômico - considerando que a agropecuaria
é uma atividade capaz de gerar, a curto, médio e longo
prazos produtos de valor comercial, o desafio consiste
em adotar sistemas de produçao e de cultivo que
minimizem perdas e desperdteios, que apresentem
produtividade compatfvel com os investimentos feitos, e
em estabelecer mecanismos que assegurem a
competitividade do produto no mercado;
c) desafio social - considerando a capacidade da
agropecuaria de gerar empregos diretos e indiretos, e de
contribuir para a contençao de fluxos migratorios, que
favorecem a urbanizaçao acelerada e desorganizada, esse
desafio consiste em adotar sistemas de produçao que
assegurem geraçao de renda para o trabalhador rural e que
ele disponha de condiçoes dignas de trabalho com
remuneraçao compatfvel à sua importância no processo
de produçao;
d) desafio tecnologico - considerando que a agropecuaria
é fortemente dependente de tecnologias para o aumento
da produçao e da produtividade, e que muitas tecnologias,
sobretudo aquelas intensivas em capital, sao causadoras
de impactos ao ambiente, urge que se desenvolvam novos
processos produtivos em que as tecnologias sejam menos
agressivas ambientalmente, mantendo uma adequada
relaçao produçao/produtividade.
Organizaçoes Rurais & Agroindustriais, Lavras, v. 9, n. 2, p. 216-228, 2007