Governança e mecanismos de controle social ...
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meios pelos quais um conjunto de empresas se articula e
regula suas atividades.
Neste trabalho, apresenta-se um estudo sobre a
estrutura de governança de uma rede de PMEs do setor
de supermercados. Para tanto, considerou-se o conceito
de governança em redes de Jones et al. (1997), como um
conjunto selecionado, persistente e estruturado de firmas
autônomas engajadas na criaçao de produtos ou serviços,
baseados em contratos implicitos e indefinidos, para se
adaptarem às contingências ambientais, bem como
coordenarem e criarem salvaguardas para as trocas.
Embora as redes, muitas vezes, sejam utilizadas como
instrumente de expansao e melhoria da Competitividade,
quando sua formaçao é direcionada para a
institucionalizaçao da colaboraçao (ANDRADE, 2003),
focando as relaçoes sociais entre os atores e imbricaçoes
(GRANOVETTER, 1985), parte-se para uma analise
socioeconômica que visa compreender o funcionamento
dessas configuraçoes, bem como sua governança e os
mecanismos de controle sociais empregados na
coordenaçao das atividades interorganizacionais (JONES
et al., 1997).
Por nao serem reguladas pelos mecanismos de
preço, tradicionalmente encontrados no mercado, nem
geridas em funçao de rotinas e regras burocraticas, bastante
comuns nas organizaçoes hierarquicas (CHILD &
MCGRATH, 2001), as redes constituem um formato hibrido
de organizaçao. Essa configuraçao hibrida delineia uma
nova maneira de estudar as organizaçoes (NORHIA, 1992)
e as interaçoes entre atores interdependentes com
objetivos comuns e divergentes ao mesmo tempo. Assim,
a governança das redes visa estabelecer o ajuste adequado
aos desequilibrios decorrentes de possiveis conflitos. As
regras, ao serem legitimadas pelos individuos, reduzem a
possibilidade de comportamentos oportunistas, tal como
definido por Williamson (1979), e restringem a açao
individual que possa prejudicar a rede. Essa abordagem
favorece o estimulo à cooperaçao e o estabelecimento da
confiança nos relacionamentos, fortalecendo os vinculos
que conectam os atores.
O presente trabalho tem como objetivo descrever e
analisar a estrutura de governança de uma rede
interorganizacional de PMEs, considerando os mecanismos
sociais de controle presentes na coordenaçao das
atividades realizadas pelos dirigentes e demais atores
envolvidos. Nesse sentido, este trabalho foi estruturado
em três partes: na primeira, apresenta-se o fundamento
teorico para estudo de governança de redes
organizacionais. Em seguida, define-se a metodologia da
pesquisa. Na terceira parte, apresenta-se a analise da
estrutura de governança na rede estudada. Por fim,
encontram-se as consideraçoes finais da investigaçao.
2 Referencial teorico
O termo governança em redes possui, segundo
Jones et al. (1997), diversas definiçoes que estao ancoradas
em dois conceitos basicos: padroes de interaçoes nas trocas
e relacionamentos, e fluxos de recursos entre unidades
independentes. Os autores propoem, entao, uma
formulaçao diferenciada, incluindo elementos destes
conceitos, o que, para eles, resultaria em uma noçao mais
completa do termo. Para tanto, discutem a problematica
das condiçoes (incerteza da demanda, trocas
customizadas, complexidade das tarefas e freqüência) que
dao origem a essa forma de governança.
Contudo, alguns problemas de adaptaçao,
coordenaçao e salvaguarda das trocas, freqüentemente,
emergem dentro de arranjos em redes. Na tentativa de
superar estes problemas empregam-se mecanismos de
controle sociais (acesso restrito às trocas, macrocultura,
sansoes coletivas e reputaçao) que, além de salvaguardar
as trocas, possibilitam a reduçao dos custos de
coordenaçao. Assim, a governança em redes se apresenta
como uma forma alternativa de organizaçao, mais bem
adaptada do que os métodos tradicionais fundados em
regras burocraticas.
2.1 Governança em redes
O conceito de governança surge como resposta às
condiçoes de incerteza da demanda, trocas customizadas,
complexidade das tarefas e freqüência, fazendo com que
as empresas sejam direcionadas a uma imbricaçao estrutural
de suas transaçoes (JONES et al., 1997). A incerteza da
demanda origina-se de diversas fontes, como fornecedores,
consumidores, concorrentes, etc. Demanda incerta e
ambiente complexo criam condiçoes favoraveis para o
surgimento de comportamentos oportunistas (FIANI,
2002). O conceito de oportunismo esta diretamente
associado à “busca de uma variedade de interesses
proprios” (WILLIAMSON, 1979, p. 234) e manipulaçao de
assimetrias de informaçao, visando, essencialmente, se
beneficiar de fluxos de lucros (FIANI, 2002). Este tipo de
comportamento eleva a incerteza nas relaçoes entre os
atores, influenciando diretamente nos niveis de confiança.
Em contrapartida, Jarillo (1988) argumenta que a existência
de confiança nas relaçoes empresariais permite a reduçao
nos custos de transaçao, gerando maior viabilidade para a
sobrevivência da rede no tempo.
Organizaçoes Rurais & Agroindustriais, Lavras, v. 8, n. 1, p. 58-70, 2006