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TURETA, C. et al.
As trocas customizadas criam certo grau de
dependência e elevam a necessidade de coordenaçao
entre agentes envolvidos num determinado
relacionamento. Numa dada situaçao em que um individuo
decide nao comprar mais o produto e ou serviço
customizado, provavelmente o vendedor tera grandes
dificuldades, se é que conseguira, transferir este produto
e ou serviço para outro cliente. Faz-se necessario,
portanto, um formato organizacional que promova a
cooperaçao, a proximidade entre os atores e as trocas
permanentes com o intuito de transmitir efetivamente
conhecimento tacito4 às partes envolvidas (JONES et al.,
1997) e assegurar o cumprimento daquilo que havia sido
previamente acordado.
As tarefas complexas sao definidas pelo numero de
diferentes inputs especializados necessarios para completar
um produto ou serviço, criando um comportamento de
interdependência. Estes inputs especializados, essenciais
para o desempenho das atividades numa rede especfica,
sao o resultado de um aumento do escopo de atividades,
numero de produtos criados e numero de diferentes
mercados-alvo (JONES et al., 1997).
A freqüência de trocas entre as partes refere-se à
quantidade de interaçoes de troca ocorridas entre dois
atores. É também uma rica fonte de transferência de
conhecimento tacito entre os individuos. Contatos
pessoais permanentes, materializados por meio das
fronteiras interorganizacionais, adicionam uma certa dose
de cortesia e consideraçao entre os atores, desencorajando
ou, pelo menos, reduzindo, a possibilidade de busca de
vantagens particulares numa transaçao. O conjunto dessas
(inter)açoes representa a noçao central de imbricaçao
(JONES et al., 1997).
Para Granovetter (1985), é possivel encontrar dois
tipos de imbricaçao: a relacional e a estrutural. A relacional
abrange a intensidade e a qualidade das trocas dyadic
(pairwise), ou seja, o quanto as necessidades e os
objetivos de uma parte sao levados em consideraçao
(GRANOVETTER, 1992) e o comportamento das mesmas
no que tange à confiança e ao compartilhamento de
informaçoes (UZZI, 1997). A imbricaçao estrutural
envolve controle social; a complexidade das condiçoes
de troca, tarefas customizadas e interaçoes que ocorrem
4Entende-se por conhecimento tacito aquele que é inerente aos
individuos e esta relacionado a crenças, valores, intuiçao e emoçao
(NONAKA & KONNO, 1998), sendo, portante, de dificil
formalizaçao e visualizaçao.
periodicamente desenham sua formataçao. A noçao de
imbricaçao permite melhor apreender a problematica do
funcionamento das redes, ao considerar a interaçao entre
individuos com interesses comuns e divergentes, que
por sua vez, demandam grandes esforços para a
manutençao e a sustentaçao desses relacionamentos. As
relaçoes entre membros de uma dada rede de empresas
requerem a consideraçao de possiveis desequilibrios
decorrentes de divergências para além da simples relaçao
entre individuos.
Assim, sao estabelecidas regras como aquelas
apontadas por Maynts, citado por Pereira et al. (2004).
Essas regras incluem: distribuiçao justa de custos e
beneficios, reciprocidade entre os atores, restriçao à
liberdade de açao individual e respeito para com os
interesses dos outros participantes da rede. O
fundamental, no entanto, é o real conteudo das regras
para que as mesmas possam representar um eficaz meio
de governar a logica do compromisso e barganha nas
redes. Mas, mesmo com a existência de regras, a
cooperaçao nas redes nem sempre é harmoniosa e facil,
pois o surgimento de conflitos em relaçoes freqüentes e
sistematicas pode ocorrer mesmo com a dependência entre
os atores, seja no processo de distribuiçao de custos
seja na retençao dos beneficios oriundos das açoes
conjuntas (KLIJN & KOPPENJAN, 2000).
Deve-se, entao, analisar a problematica da
informaçao, dada a capacidade de uma rede de acumula-
las em grande quantidade, de diversos tipos e compartilha-
las com os membros, garantindo-lhes acesso preferencial
por meio de suas inter-relaçoes. Os relacionamentos
pessoais promovem a confiança e facilitam o fluxo de
informaçoes (POWELL, 1990). De um lado, a confiança é
um componente crucial para que o empreendimento seja
bem sucedido (KLEIN et al., 2002). De outro, informaçoes
obtidas por meio de individuos com os quais a empresa
mantém relacionamentos permanentes, provavelmente,
serao mais confiaveis, pois a integraçao entre os mesmos
eleva o conhecimento uns dos outros, estabelecendo a
reciprocidade como foco central da discussao sobre redes
(POWELL, 1990).
Açoes que visem a distribuiçao de direitos de
decisao na rede, de forma unificada, ao redor de propositos
estratégicos, ajudam a reduzir a divergência e propiciam
meios de se chegar ao estabelecimento de mecanismos de
governança (SAUVÉE, 2002). Trata-se de criar o alicerce
para que os mecanismos sociais permitam adaptaçao,
coordenaçao e salvaguarda de trocas customizadas e
complexas (JONES et al., 1997).
Organizaçoes Rurais & Agroindustriais, Lavras, v. 8, n. 1, p. 58-70, 2006