O funcionalismo de Sellars: uma pesquisa histδrica



Ciências & Cogniçâo 2009; Vol 14 (3): 024-038 <http://www.cienciasecognicao.org>                              © Ciências & Cogniçâo

Submetido em 21/09/2009   | Aceito em 19/11/2009   | ISSN 1806-5821    - Publicado on line em 30 de novembro de 2009

internamente, cf. Sellars e Chisholm, 1957) - e possuem sua prôpria forma, justificando,
portanto, serem atribrndos a uma “linguagem do pensamento”.

Como jâ ficou evidente, a linguagem publica é o modelo que Sellars procura analisar
para chegar ao pensamento. A reflexâo sobre como ela se constitui o leva a adotar a analogia
com o jogo de xadrez, jâ vista em Wittgenstein (1975, 2003), para quem as palavras adquirem
significado a partir do uso. Sellars desde 1949 dava sinais de aproximar a linguagem a jogos,
mas a analogia linguagem-xadrez sô foi elaborada a partir de 1953 com
A Semantical Solution
of the Mind-Body Problem
, estendendo-se aos trabalhos subsequentes.

A mesma analogia se tornou posteriormente uma das favoritas do funcionalismo. Mas,
que hâ nela que a faz tâo atraente? Sabemos que o xadrez é definido por regras, o numero de
peças e os movimentos vâlidos para cada uma. Ser um
bispo significa respeitar um conjunto
de regras, e sô por isso podemos dizer que tais movimentos sâo vâlidos: os jogadores aceitam
e reconhecem tais regras, agindo de acordo com elas. Entâo, se alguém move um
bispo,
responde a um elemento que, naquela circunstância, significa um
bispo por respeitar regras
daquele jogo e assumir essa funçâo. Por isso, um
bispo é uma abstraçâo para um conjunto de
movimento que um objeto pode realizar no contexto do jogo; o
significado de uma peça de
xadrez é a totalizaçâo das regras que ele pode cumprir para desempenhar um papel no jogo.
Se uma peça se torna
bispo pelo fato de ser governada por certas regras num contexto,
qualquer objeto que cumpra a mesma funçâo pode ser descrito igualmente como tal. Nao
encontramos referências às propriedades fisicas na descriçâo do jogo de xadrez, as regras se
referem apenas a movimentos. As peças e o tabuleiro podem ser de quaisquer materiais,
tamanhos e cores. O conceito do jogo nâo pode ser reduzido a caracteristicas empmcas; o
jogo se reduz tâo-somente às regras. No entanto, ele precisa ser realizado
em algum suporte
fîsico (peças e tabuleiro de madeira, pedra, a tela do computador, papel e caneta, etc.).

De forma anâloga ao xadrez, a linguagem é definida por um conjunto de expressôes e
um conjunto de regras para seu uso, e as palavras exercem papéis segundo regras que
especificam em que casos devemos usâ-las para sermos compreendidos (Sellars, 1949, 1971).
As palavras ganham significados em contextos, desempenhando uma funçâo ao tomar posiçâo
num jogo de linguagem. Por isso, devem ser consideradas holisticamente: “a living language
is a system of elements which play many different types of roles, and no one of these types of
role make sense apart from the other” (Sellars, 1969b: 65). Ademais, o significado nâo é fixo,
uma mudança lingrnstica pode implicar uma mudança conceitual. Por exemplo, se no futuro
ficar provado que o que hoje chamamos
mente inexiste, nosso conceito de mente precisarâ ser
modificado, e passaremos a empregar o novo sentido apenas na ocasiâo adequada, com outro
papel.

Esta tese (functional role semantic) é similar a de Wittgenstein nas Investigaçoes.
Entretanto, enquanto este se limita a um funcionalismo lingrnstico, Sellars estende a proposta
aos estados mentais, o que lhe confere uma posiçâo realmente original, mas lhe obriga a
explicar a relaçâo entre linguagem e tais estados (a relaçâo entre a linguagem publica e a
interna), propôsito do
mito de Jones. Ora, jâ dissemos que o significado dos estados mentais é
dado pelo papel funcional que desempenham no
espaço logico das razoes, e assim se tornam
intencionais. Isto é, o pensamento da comunidade, sob influência de Jones, adquiriu
intencionalidade (“referência ou ser acerca de algo”, Sellars, 2008: 97) pois “[a teoria
jonesiana]
transfere a esses episodios internos a aplicabilidade de categorias semânticas
(Sellars, 2008:108). Porém, o que é o pensamento?

Pensar realiza-se com elementos internos que participam funcionalmente em
inferências que se referem à linguagem, por isso dâo significado ao pensamento. Como hâ
uma analogia funcional entre a linguagem publica e a interna, o significado dos estados
mentais ocupa o mesmo papel que ocupam os termos lingrnsticos, um predicado mental

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