Ciências & Cogniçâo 2009; Vol 14 (3): 024-038 <http://www.cienciasecognicao.org> © Ciências & Cogniçâo
Submetido em 21/09/2009 | Aceito em 19/11/2009 | ISSN 1806-5821 - Publicado on line em 30 de novembro de 2009
corresponde funcionalmente a um predicado Iingmstico (palavras de idiomas distintos podem
ocupar o mesmo papel; pensar depende de uma linguagem, mas nâo de uma em especial).
Desse modo, pensar nâo é falar internamente, mas manipular sentenças de uma linguagem
interna nomeada por Sellars de Mentalese:
“I propose that we take very seriously the view that a thought, in the sense in which
thoughts occur to one, is the occurrence in the mind of sentences in the language of
‘inner speech’, or, as I shall call it, 'Mentalese'. These sentence events, as I have pointed
out elsewhere, are not to be confused with verbal imagery.” (Sellars, 1971)
Sellars sugere uma forma de expressâ-la baseando-se na funçâo dos termos na frase.
Assim, em “the ∙dog∙ is a animal” e “o ∙cachorro∙ é um animal”, dog e cachorro sâo
conceitos funcionalmente equivalentes por posswrem o mesmo papel.
Se duas palavras têm o mesmo significado por ocuparem a mesma funçâo lingwstica,
dois estados mentais têm o mesmo conteudo por ocuparem a mesma funçâo no discurso
interno (pensamentos idênticos sâo os que desempenham funçôes idênticas). Nesse sentido,
importa considerar somente o papel funcional dos pensamentos, uma vez que a explicaçâo do
que eles realmente sâo é desconhecida (e mesmo que venha a ser conhecida nâo altera o modo
como Sellars os trata). Ora, como as regras do xadrez estâo restritas ao xadrez e as da
linguagem restritas à linguagem, o pensamento estâ restrito a suas prôprias regras. Contudo,
tais regras nâo dependem da constituiçâo dos estados mentais, afinal, sâo regras lôgicas, o
“espaço das razôes” (de dar e receber razôes) que permitem um comportamento considerado
inteligente. Por isso, movimentos do pensamento podem ser considerados invâlidos se, a
partir da funçâo que damos a eles, desrespeitamos suas regras. A validade destes movimentos
depende do contexto, os estados mentais sâo analisados no contexto especifico governado por
regras. Porém, seja na linguagem seja no pensamento, o conhecimento da regra é
imprescindivel:
“I shall have achieved my present purpose if I have made plausible the idea than an
organism might come to play a language game-that is, to move from position to position
in a system of moves and positions, and to do it ‘because of the system’ without having
to obey rules, and hence without having to be playing a metalanguage game (and a
meta-metalanguage game, and so on).” (Sellars, 1951)
De modo similar ao jogo da linguagem, o pensamento se move de posiçâo em posiçâo,
mas sem obedecer a regras. Entâo, “we must distinguish between action which
merely conforms to a rule, and action which occurs because of a rule” (Sellars, 1949),
distinçâo que ocupa papel central na interpretaçâo do pensamento governado por regras
(Sellars e Harman, 1970). Obedecer envolve conhecer a regra e a situaçâo em que ela pode ser
usada. Seguir uma regra pode ser feito sem a consciência da regra. Hâ sempre um padrâo que
governa a aplicaçâo da regra, mas se ele nâo é conhecido a regra nâo é obedecida, é seguida e
nâo se entende o papel que ela cumpre. Assim, a regra determina a funçâo que pode
desempenhar o pensamento em cada caso, ou, nas palavras de Sellars, “the short answer to the
question as to how one might come to recognize the functional role of an expression is that it
is the result of pattern-governed behavior” (Sellars, 1974: 423). Entâo, explicar um conceito a
uma criança é como explicar o bispo no jogo de xadrez, dar suas regras, definir seu papel.
Explicar o papel que um pensamento pode assumir num jogo de razâo é ensinar a pensar, e sô
apôs aprender o papel os movimentos podem ser realizados com entendimento. Obedecer a
uma regra nasce de um estado cognitivo: “logical rules in the primary sense are rules of
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