Ciências & Cogniçâo 2009; Vol 14 (3): 024-038 <http://www.cienciasecognicao.org> © Ciências & Cogniçâo
Submetido em 21/09/2009 | Aceito em 19/11/2009 | ISSN 1806-5821 - Publicado on line em 30 de novembro de 2009
comportamento verbal. Como escreveu (Sellars, 1975), ele tentou limitar o impacto da
evoluçâo das microfisica às questôes relacionadas a o que é uma pessoa?, por isso sua
formulaçâo pode resistir aos avanços da neurociência por postular papéis funcionais
desconsiderando o que efetivamente sâo estados mentais (definidos desde o prindpio como
entidades teôricas com funçôes a cumprir). Ora, concebida desse modo Sellars nâo exclui
filosofias materialistas. Embora trate funcionalmente de estados mentais sem reduzi-los a
fatos empmcos, isso, de fato, pouco importa:
“O fato de que eles [pensamentos] nâo sâo introduzidos como entidades fisiolôgicas nâo
exclui a possibilidade de que, em um estâgio metodolôgico posterior, eles, por assim
dizer, ‘resultem’ ser isso. Logo, hâ muitos que diriam que jâ é razoâvel supor que esses
pensamentos devem ser ‘identificados’ como eventos complexos no côrtex cerebral
funcionando como uma mâquina de calcular. Jones, claro, ignora isso
completamente.” (Sellars, 2008: 108, grifo meu)
Ademais, nâo é necessârio recorrer a posiçôes metafisicas:
“O que devemos supor que Jones desenvolveu é o germe de uma teoria que permite
muitos diferentes desenvolvimentos. Nôs nâo precisamos sujeitâ-la a nenhuma das mais
sofisticadas formas que assume nas mâos de filôsofos clâssicos. Logo, à teoria nâo
precisa ser dada uma forma socrâtica ou cartesiana, de acordo com a qual essa ‘fala
interna’ é a atividade de uma substância separada.” (Sellars, 2008: 107)
E por isso Rorty pode afirmar:
“Sellars mostrou como é possivel oferecer uma explicaçâo nâo-reducionista de ‘evento
mental’ evitando, nâo obstante, como Wittgenstein, a figura do olho da mente enquanto
testemunha de eventos em uma espécie de teatro interno imaterial.” (Sellars, 2008: 19;
cf. também Rorty, 1988: 40-41)
Concebida dessa maneira, a filosofia da mente de Sellars é complexa, pois combina
uma perspectiva funcional que reconhece a intencionalidade dos estados mentais a partir de
uma consciência lingrnstica. Porém, sentir dor independe da linguagem e do que dor seja, isto
é, saber o que ela é nâo é uma condiçâo causal necessâria para senti-la (cf. Rorty, 1988, cap.
4). Como consequência, nâo é necessârio defini-la para caracterizâ-la desde que se tenham
mecanismos para identificâ-la como tal, o que é feito funcionalmente5. O mito de Jones
mostrou como “coisas que sâo similares em suas propriedades observâveis diferem em suas
propriedades causais, e coisas que sâo similares em suas propriedades causais diferem em
suas propriedades observâveis” (Sellars, 2008: 101), um grande passo em direçâo a uma
abordagem funcionalista da mente.
2. O funcionalismo da década de 60
“Sellars’s influence has been ubiquitous but almost subliminal (if one judges by the
paucity of citations to Sellars among functionalists). It is clear that Putnam, Harman,
and Lycan [...] have been quite directly influenced by Sellars.” (Dennett, 1990: 341)
Sellars escreveu EFM pouco depois da publicaçâo de dois trabalhos importantes, O
conceito de mente, de Ryle, em 1949, e as Investigaçoes Filosoficas, de Wittgenstein, logo
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