O funcionalismo de Sellars: uma pesquisa histδrica



ɑneiss Ciências & Cogniçâo 2009; Vol 14 (3): 024-038 <http://www.cienciasecognicao.org>                              © Ciências & Cogniçâo

QCJogn⅛δo Submetido em 21/09/2009   | Aceito em 19/11/2009   | ISSN 1806-5821    - Publicado on line em 30 de novembro de 2009

É importante ressaltar que o advento do funcionalismo coincidiu com o sucesso do
computacionalismo a partir dos anos 50, e naturalmente desenvolveu-se a analogia hardware-
cérebro e software-mente. Se o computador de
Babbage e a mâquina de Turing conseguem
realizar as mesmas tarefas, podemos afirmar que computar - manipular simbolos de acordo
com regras - independe do suporte material, ou seja, nâo é fîsico (nâo ocorrem por causa de
elementos materiais). Como consequência, dizemos que estes processos sâo apenas
instanciados em objetos fisicos segundo multiplas possibilidades (realizabilidade multipla).
Ora, essa tese, somada ao reconhecimento de que objetos distintos podem ter propôsitos
comuns, conduziu àquilo que Dennett (2006: 18) chamou “segunda onda do fisicalismo”,
permitindo a Hilary Putnam desenvolver nos anos 60 o conceito de funçâo adaptado ao da
mâquina de
Turing10 e considerar o cérebro o suporte fisico para realizaçâo da mente. Assim,
o funcionalismo de Putnam considera estados mentais nâo como cerebrais, mas estados
funcionais realizados por estados cerebrais (as propriedades mentais nâo sâo idênticas a
estados cerebrais). Estar em um estado de
dor pode se realizar em humanos e animais etc.,
afinal,
sentir dor é estar em um estado especifico que cumpre uma funçâo definida
independente da constituiçâo fîsica de quem a realiza. Ora, se dois sistemas têm uma
correspondência funcional entre seus estados podem desempenhar a mesma funçâo (Putnam,
1975), isto é, sâo funcionalmente isomorfos. Sobre o surgimento do funcionalismo da
mâquina de
Turing, Putnam comentou:

“I was in the habit of explaining the idea of a ‘Turing machine’ in my mathematical
logic courses in those days. [...] The state of a Turing machine - one may call such states
computational states - is identified by its role in certain computational processes,
independently of how it is physically realized. [...] I began to apply images suggested by
the theory of computation to the philosophy of mind, and in a lecture delivered in 1960.
I suggested a hypothesis that was to become influential under the name
functionalism:
that the mental states of a human being are computational states of the brain. To
understand them [...] it is necessary to abstract from the details of neurology.” (Bender e
Schorske, 1998: 198-199)

Contudo, como identificamos estados funcionais pelo comportamento (cremos que um
cachorro estâ num estado de dor se uiva apôs ser atropelado, ainda que ignoremos seu estado
cerebral; sobre isso, Dennett diria, entâo, que nossa prediçâo do comportamento animal é
intencional, cf. Dennett, 2006: 41), o funcionalismo muitas vezes é confundido com o
behaviorismo (para Block, 1980: 268: “functionalism can be seen as a new incarnation of
behaviorism”). Entretanto, segundo Putnam, hâ comportamentos de
dor que podem ser
especificados sem a palavra “dor”, o que sugere ser mais adequado relacionar
dor a um estado
funcional do que comportamental, ou seja, estados mentais devem ser definidos por seu papel
funcional
entre o input e o output. Assim, inumeros organismos podem realizar um estado de
dor, sendo impossivel definir o que é dor; é mais fâcil definir o que é estar em dor. Nesse
sentido, a proposta funcional é apropriada porque se abstêm de explicar o fisico como causa
do estado funcional, por exemplo, minimizando a explicaçâo de como as estruturas cerebrais
(nervosas) causam um estado como
dor. Ora, essa abordagem compreende estados mentais de
maneira mais ampla, abrangendo sistemas totalmente distintos da composiçâo bioqrnmica do
cérebro humano. Por isso, estados mentais nâo podem ser estados cerebrais, senâo,
dor nâo
poderia ser atribrnda a animais que nâo possuam o mesmo cérebro que os humanos. Ao
contrârio, o funcionalismo permite que outros organismos em estados fisicos diferentes
possam estar nos mesmos estados funcionais, como o de
dor, seja cachorro, homem, mâquina,
alierngena:

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