O funcionalismo de Sellars: uma pesquisa histδrica



Ciências & Cogniçâo 2009; Vol 14 (3): 024-038 <http://www.cienciasecognicao.org>                              © Ciências & Cogniçâo

Submetido em 21/09/2009   | Aceito em 19/11/2009   | ISSN 1806-5821    - Publicado on line em 30 de novembro de 2009

“In contrast, we can specify the functional state with which we propose to identify pain,
at least roughly, without using the notion of pain. Namely, the functional state we have
in mind is the state of receiving sensory inputs which play a certain role in the
Functional Organization of the organism. This role is characterized, at least partially, by
the fact that the sense organs responsible for the inputs in question are organs whose
function is to detect damage to the body, or dangerous extremes of temperature,
pressure, etc., and by the fact that the ‘inputs’ themselves, whatever their physical
realization, represent a condition that the organism assigns a high disvalue to.” (Putnam,
1975: 438)

Também na década de 60, Jerry Fodor (de modo paralelo e independente de Putnam)
adotou uma postura funcionalista apoiada na ideia de que estados funcionais sâo gerados a
partir de manipulaçâo representacional (simbôlica). Segundo esta perspectiva, estados
internos sâo representacionais, com conteudos manipulâveis a partir de regras formais de
computar (segundo Fodor, negar a representaçâo é negar a manipulaçâo simbôlica e
consequentemente a prôpria mente; Fodor defende o cognitivismo em sua formulaçâo mais
clâssica: estados mentais sâo proposiçôes que podem ser compreendidas a partir de regras. Se
estas proposiçôes sâo simbolos, pensar é manipular simbolos de acordo com uma linguagem
formal). Considerar a manipulaçâo de simbolos internos como uma “linguagem do
pensamento” é uma similaridade entre Sellars e Fodor11, guardada distinçôes, como reconhece
o prôprio Fodor (1990).

Todavia, o funcionalismo, embora tenha claramente um esboço em Sellars, como
mostramos, parece ter tido um desenvolvimento com Putnam e Fodor sem qualquer influência
sellariana. Como exemplo, nota-se o fato de que nos anos 60 - época de formulaçâo do
funcionalismo - nenhum destes dois autores cita Sellars em seus trabalhos, que sô vieram a ser
por eles conhecidos posteriormente: “Putnam, however, told me he ‘arrived at functionalism
quite naturally, being at the time both a philosopher and a recursion theorist’ (personal
correspondence)” (Piccinini, 2003: 224). E mais adiante: “Fodor told me he learned about
Sellars and Harman’s theory of thought only after writing his 1975 book (personal
correspondence)” (Piccinini, 2003: 227).

Por fim, comentemos brevemente a proposta de Dennett, uma versâo de funcionalismo
com conteudo intencional, a ideia de que nossos estados mentais sâo apenas conceitos
teôricos que usamos para entendermos o comportamento humano, tese que contém bastante
proximidade com Sellars. De um
sistema intencional “prediz-se o comportamento [...]
atribuindo ao sistema à posse de determinada informaçâo, e pressupondo que ele é regido por
determinados objetivos, e entâo elaborando a açâo mais razoâvel e apropriada como base
nessas atribuiçôes e pressuposiçôes” (Dennett, 2006: 37). Entretanto, a formulaçâo de Dennett
nâo parece ter sido inicialmente influenciada por Sellars. Em
Content and consciousness, de
1969, Sellars também nâo é citado, e a principal influência de Dennett parece ter sido Putnam.
Como escreve Piccinini (2003), Dennett leu
EFM apenas depois que jâ tinha escrito Content
e, na época, acreditou nâo tê-lo compreendido bem, nâo tendo a obra grande efeito sobre ele
na ocasiâo:

“I’d read all of Putnam’s consciousness papers (to date), and was definitely influenced
strongly by Putnam. One of Sellars’ students, Peter Woodruff, was a colleague of mine
at UC Irvine, and it was he who showed me how my work was consonant with, and no
doubt somewhat inspired by, Sellars. But that was after he read C&C [
Content and
consciousness
]. I thereupon sent Sellars one of the first copies of C&C, and he wrote

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