O funcionalismo de Sellars: uma pesquisa histδrica



Eneias Ciências & Cogniçâo 2009; Vol 14 (3): 024-038 <http://www.cienciasecognicao.org>                              © Ciências & Cogniçâo

jogniçSo Submetido em 21/09/2009   | Aceito em 19/11/2009   | ISSN 1806-5821    - Publicado on line em 30 de novembro de 2009

depois, em 1953. Nesse periodo, as perspectivas para a questâo mente-corpo resumiam-se a
duas alternativas: de um lado, um dualismo enfraquecido, embora ainda presente na filosofia e
em outras areas (como nas primeiras geraçôes de neurocientistas, Bennett e Hacker, 2003), e,
de outro, um materialismo Iimitado a uma nov^ssima teoria da identidade. A estas tendências
principais podemos adicionar uma terceira, o behaviorismo, que tentava enfrentar e resistir às
pesadas objeçôes dos mais diversos setores contrarios a ele. Diante dessa carência de opçôes
surgiu nos anos 60 a proposta funcionalista, que, entre seus objetivos, visava atacar a teoria da
identidade de Place (1956) e Smart (1959) e se posicionar contra o behaviorismo.

Como vimos, Sellars desenvolveu na década de 50 uma teoria em que estados mentais
sâo tomados como entidades teôricas que desempenham papéis funcionais, mas em nenhum
momento deu-lhe o nome
funcionalismo. Somente na década seguinte o funcionalismo
recebeu a formulaçâo que o popularizou, especialmente através da primeira fase da obra de
Hilary Putnam (posteriormente ele abandonou o funcionalismo) e de Jerry Fodor, embora
tenha também assumido outras caracterizaçôes. Porém, algumas das ideias adotadas por
Putnam e Fodor ja haviam sido concebidas antes. Ora, além do prôprio Sellars, sâo
considerados antecedentes Aristôteles, citado por Putnam (1975) com uma interpretaçâo
funcionalista6, Hobbes, que combinou uma visâo “computacional” da mente com elementos
funcionais e a tendência atual de considerar funcionalista a obra de Kant7 (em sua
Autobiographical Reflections, de 1975, Sellars reconhece este ultimo como grande influência.
Para Brook (2003), Sellars foi o primeiro a ler Kant como um “
proto-funcionalista”).
Todavia, a divisâo mais comum distingue o funcionalismo em très orientaçôes, a saber:

“Functionalism has three distinct sources. First, Putnam and Fodor saw mental states in
terms of an empirical computational theory of the mind. Second, Smart’s ‘topic neutral’
analyses led Armstrong and Lewis to a functionalist analysis of mental concepts. Third,
Wittgenstein’s idea of meaning as use led to a version of functionalism as a theory of
meaning, further developed by Sellars and later Harman.” (Block, 1980)

Todas as tendências, porém, tenham elas quaisquer particularidades, assumem que a
condiçâo para um sistema estar em um estado independe das caracteristicas internas do
sistema; depende, sim, dele desempenhar uma funçâo. Relôgios nâo sâo definidos em termos
de seu material, organizaçâo interna ou cor: ser um relôgio é ter uma propriedade funcional - a
de medir o tempo - em virtude de desempenhar um papel. Assim, estar em um estado
funcional é possuir propriedades entendidas no contexto de relaçôes causais, isto é, satisfazer
um papel é responder um
input com um output espedfico (sem desconsiderar as interaçôes
entre estados). No caso de estados
mentais, as propriedades sâo funcionais a partir do papel
que desempenham no sistema cognitivo, a partir de estimulos (
input), interaçâo com outros
estados mentais e respostas (
output)8.

Por isso, nâo é dificil compreender porque o programa funcionalista se tornou
atraente, uma vez que explica como entidades distintas fisicamente podem possuir os mesmos
conteudos. Nâo é necessario (nem suficiente) estar em um estado fîsico especifico para estar
em um estado funcional, o que permite aceitar que tal estado seja instanciado em outros
sistemas apenas funcionalmente analogos. Ora, o funcionalismo nâo é uma teoria
type-type,
pois reduz os tipos mentais a tipos funcionais, nâo necessariamente cerebrais. Assim, é uma
teoria
type-token, um estado funcional passa a ser visto como um tipo particular
multiplamente realizavel9. Isto é, o funcionalismo concede a um estado qualquer um
token
relacionando um estimulo a uma resposta, e as propriedades internas deste estado sâo
irrelevantes. Portanto, sistemas que ocupem o mesmo papel estarâo no mesmo estado.

32



More intriguing information

1. The name is absent
2. Computational Batik Motif Generation Innovation of Traditi onal Heritage by Fracta l Computation
3. The name is absent
4. The name is absent
5. Ronald Patterson, Violinist; Brooks Smith, Pianist
6. Yield curve analysis
7. The Role of Immigration in Sustaining the Social Security System: A Political Economy Approach
8. Mean Variance Optimization of Non-Linear Systems and Worst-case Analysis
9. For Whom is MAI? A theoretical Perspective on Multilateral Agreements on Investments
10. Labour Market Flexibility and Regional Unemployment Rate Dynamics: Spain (1980-1995)
11. A parametric approach to the estimation of cointegration vectors in panel data
12. Evaluating the Success of the School Commodity Food Program
13. The name is absent
14. The name is absent
15. Monopolistic Pricing in the Banking Industry: a Dynamic Model
16. The Impact of Optimal Tariffs and Taxes on Agglomeration
17. Foreign direct investment in the Indian telecommunications sector
18. The name is absent
19. Technological progress, organizational change and the size of the Human Resources Department
20. Keynesian Dynamics and the Wage-Price Spiral:Estimating a Baseline Disequilibrium Approach