314
LOURENZANI, W. L.
preparando sua transiçao para a proxima geraçao. O negocio
familiar deve, portanto, ser gerenciado em busca da
viabilidade no curto prazo e da riqueza no longo prazo.
O negocio familiar mistura emoçao e
sentimentalisme com objetividade e racionalidade. A famüia
e o negocio sao inseparavelmente conectados, apesar da
relativa incompatibilidade entre os dois componentes. O
negocio familiar, diferentemente do negocio corporativo,
deve tratar as demandas dos relacionamentos familiares
tao bem como com as demandas do mercado consumidor
(ROBBINS & WALLACE, 1992).
Nesse contexto, o desempenho da agricultura
familiar é determinado por um conjunto grande de variaveis,
sejam decorrentes das politicas pùblicas e da conjuntura
macroeconômica, sejam decorrentes de especificidades
locais e regionais. Muitas dessas variaveis fogem ao
controle da unidade de produçao, mas outras, como a
gestao da produçao, estao mais diretamente vinculadas
ao seu controle.
Existe uma série de fatores que afetam
significativamente o desempenho dos empreendimentos
rurais. A elaboraçao de projetos agricolas para a solicitaçao
de crédito, a tomada de decisao sobre o que produzir, a
escolha da tecnologia a ser adquirida, o processo de
compra de insumos e venda de produtos, o acesso aos
mercados, entre outros, estao entre eles. De maneira geral,
lidar com essa complexidade de funçoes
concomitantemente exige capacitaçoes gerenciais,
ausentes na maioria dos produtores rurais, inclusive os
familiares. Tal deficiência provoca impactos negativos no
desenvolvimento desse segmento e, conseqüentemente,
na sua integraçao aos mercados mais dinâmicos. Assim, é
possivel encontrar produtores familiares em areas bastante
desenvolvidas do pais, onde existem amplo mercado,
disponibilidade de crédito, fornecedores, agroindùstrias,
mas com projetos produtivos fracassados. Nao é raro
encontrar projetos de investimento e custeio destinados à
agricultura familiar apoiados por organizaçoes
governamentais, com crédito e assistência técnica
subsidiados, mas com baixo desempenho.
Do ponto de vista técnico, tratam-se, muitas vezes,
de projetos mal concebidos, associados à adoçao de
opçoes produtivas inconsistentes, insuficientemente
testadas e até mesmo descabidas. Este problema,
corriqueiro na administraçao de estabelecimentos rurais
em geral e, em particular, na produçao familiar, revela a
forte deficiência em atividades de gestao.
É imperativo que os produtores adotem o processo
de aprendizagem de todo um conjunto de atividades pouco
usuais nos sistemas tradicionais de produçao. Além da
utilizaçao de tecnologia e novas formas de organizaçao,
inclusive coletiva, também é imprescindivel trabalhar com
a gestao do empreendimento.
O principal problema nao se encontra nas técnicas
agropecuarias que, dentro da realidade de cada produtor,
estao plenamente disponveis. Ele reside, sobretudo, na
compreensao do funcionamento dos mercados, que impoe
articulaçao com os segmentos a montante e a jusante da
cadeia produtiva, novas formas de negociaçao e praticas
de gestao do processo produtivo. Além disso, é necessario
encontrar um ponto de equilibrio entre a articulaçao com
os agentes da cadeia de produçao e a possivel perda de
poder decisorio, em troca da maior rentabilidade e
estabilidade.
Uma parte significativa dos pequenos produtores
rurais ignora a evoluçao do mercado e as alteraçoes nos
habitos de consumo, olhando apenas a sua atividade, como
se ela estivesse desvinculada dos demais segmentos da
cadeia produtiva ou dos proprios habitos dos
consumidores.
A proposta de um curso de extensao rural na area
gerencial atua especificamente sobre esta deficiência,
articulando as diversas ferramentas gerenciais de apoio à
produçao familiar. A qualificaçao em gestao da agricultura
familiar, partindo de uma orientaçao multidisciplinar, é
positiva e fundamental. O uso de métodos de gestao nas
unidades familiares favorece melhores condiçoes para a
sua inserçao nos mercados e, conseqüentemente, para a
geraçao de rendas pelas familias de agricultores.
Neste contexto, este trabalho busca propor uma
estrutura metodologica de capacitaçao gerencial de
agricultores familiares, de forma a contribuir para a
sustentabilidade econômica da agricultura familiar, bem
como para a melhoria da qualidade de vida no campo.
2 Referencial teôrico
2.1 Agricultura familiar
Definir agricultura familiar como conceito de analise
nao é tarefa facil. Estudo realizado pelo convênio FAO/
INCRA (1996) diferencia os produtores familiares dos
patronais a partir do emprego de mao-de-obra (isto é, os
produtores familiares devem ter nenhum empregado
permanente e ou menos de cinco trabalhadores temporarios
em algum mês do ano) e de acordo com o nivel da renda
agricola monetaria bruta (RAMB). Guanziroli et al. (2001)
substituem tal definiçao por uma sistematica menos
arbitraria, em que a diferenciaçao entre familiares e patronais
Organizaçoes Rurais & Agroindustriais, Lavras, v. 8, n. 3, p. 313-322, 2006