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RIBEIRO, E. C. B. & QUEDA, O.
propriedade rural do pai (120 ha), e suas atividades foram
encerradas em dezembro de 2004. Segundo um dos ex-
proprietarios, montar a miniusina foi a realizaçâo de um
sonho antigo, em que os objetivos eram processar o leite
produzido na propriedade e nào mais depender de outros
laticinios. A produçâo propria de leite chegava a 1.500 1/
dia, sendo a principal fonte de renda da familia.
A atividade da propriedade era quase que
exclusivamente pecuaria leiteira, tendo algumas galinhas
poedeiras e horta para consumo proprio. A coleta de leite
se dava com ordenhadeira mecânica, realizada por mào-
de-obra contratada. A alimentaçâo do gado consistia em
pastagem nativa e cana-de-açùcar no periodo da seca.
Antes de se montar a mini-usina, parte do leite produzido
na propriedade era escoado para uma cooperativa de médio
porte da regiào. A parte que nào era entregue, era vendida
de maneira informal, na forma de leite cru, queijos e bebida
lactea. A comercializaçào era facil, pois ja havia os fregueses
certos, desde donas de casa a pequenos varejos, e a
demanda crescia a cada dia. Quando a atividade começou
a crescer, decidiram regularizar o registro junto ao SISP.
Segundo um dos proprietarios,
quando começamos a pasteurizar o leite, colocar na
embalagem com todas as exigências do SISP, e isso também
com a bebida làctea e o queijo, a populaçao parou de
comprar, pois nao era mais leite do sitio e sim
industrializado. O problema é que o povo nao tem
informaçao sobre o que é pasteurizaçao, e acham que o
leite cru e os derivados, sem inspeçao, sao mais saudàveis.
A miniusina chegou a processar 5.000 l/leite/dia,
nas formas de leite tipo B e C, iogurte e bebida lactea.
Desse leite, 1.500 litros eram produçào propria e 3.500 eram
comprados de outros produtores da regiào, inclusive de
assentados rurais. “Até dezembro/2004 estava pagando
R$ 0,50, pelo litro de leite, sem nenhum desconto. “Sempre
paguei valor de mercado e na data combinada, e nunca
tive reclamaçoes junto aos produtores”. A propria mini-
usina era responsavel pela captaçào do leite e distribuiçào
nos pontos de varejo, em cidades como Matào, Araraquara,
Itapolis, Borborema, Ibitinga, Jaboticabal, Rincào e Américo
Brasiliense. A miniusina possrna 5 caminhoes, sendo 2
abertos para a coleta de leite em latoes e 3 caminhoes-baù
térmicos, para distribuiçào ao varejo.
O carro-chefe era o iogurte e a bebida lactea, tanto
no volume de venda quanto no lucro. O leite pasteurizado
tinha muita concorrência, sendo os principais o leite longa-
vida e o leite cru.
Da maneira como vao as coisas, a tendência do leite
pasteurizado é acabar, pois antes a concorrência era
com as diversas marcas de pasteurizado, mas agora
concorrer com o longa- vida ficou dificil. Quem dera que
a sociedade soubesse o que é leite longa-vida e o
pasteurizado, mas falta informaçao.
Segundo os proprietarios,
as exigências do SISP sao muito grandes quanto à
estrutura flsica do laticmio e à qualidade do produto,
porém nao se disponibilizam informaçoes para que
resolva-se os problemas, chegam e querem multar. [...]
Em uma determinada época o SISP dispunha de uma
fiscal que entendia de leite e nos ensinava como trabalhar,
mas depois colocaram outros veterinàrios que so
queriam multar.
Quanto a incentivos poliïicos, a miniusina E
entregou leite pasteurizado durante seis anos para o
Programa Viva-Leite, o que foi feito por licitaçào. Quanto a
empréstimos do governo e incentivos da prefeitura, nunca
foram disponibilizados.
As razoes para o fechamento da mini-usina foram
pela concorrência com o leite longa-vida e o leite cru, o alto
custo operacional da atividade e as grandes exigências do
SISP. Com o fechamento da miniusina, deixou-se de
produzir leite na propriedade rural, mudou-se de atividade,
para nào mais ficar nas màos dos laticinios.
Em janeiro de 2005, os proprietarios resolveram
montar uma fabrica de sorvetes, seguindo as normas do
Ministério da Saùde e da Vigilância Sanitaria. Para se
produzir sorvete captam 500 l/leite/dia de alguns
produtores familiares, uma vez que desistiram de produzir
leite na propriedade rural. “A intençào é de nunca mais
trabalhar com laticinios e nem com produçào de leite, e
estamos satisfeitos assim”.
4 CONSIDERAÇÔES FINAIS
Permanecem ainda muitos obstaculos para a
implantaçào de atividades como miniusinas de leite.
Atualmente, um dos principais entraves encontrados pelos
produtores familiares é o acesso ao crédito. Embora existam
linhas de financiamento exclusivas para atividades de
agroindustrializaçào praticadas pelos produtores familiares,
as exigências, especialmente no que se refere à garantias,
impedem o acesso aos recursos financeiros pelos que mais
têm necessidade deles. Ha insatisfaçào com os preços
Organizaçoes Rurais & Agroindustriais, Lavras, v. 9, n. 2, p. 216-228, 2007
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