GOVERNANÇA E MECANISMOS DE CONTROLE SOCIAL EM REDES ORGANIZACIONAIS



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TURETA, C. et al.

pelas regras. Em alguns momentos, principalmente no que
se refere a determinadas questoes da rede, os contrôles
restringem a Iiberdade de açâo individual, impossibilitando
que o agente tome decisoes suportadas simplesmente pelo
seu julgamento pessoal. Porém, respeitados os parâmetros
de Comportamento mmimos definidos pela rede, o associado
passa a ser autônomo na gestâo de sua loja, podendo
estabelecer os meios pelos quais atingira as metas propostas.

Essa Caracteristica particular de restriçâo da
autonomia individual concorre, juntamente com os quatro
mecanismos de controle social (acesso restrito às trocas,
macrocultura, sansoes coletivas e reputaçào dos membros)
apresentados por Jones et al. (1997), na coordenaçâo das
atividades desenvolvidas no arranjo, permitindo
salvaguardar as trocas, bem como elevando as chances de
a governança em redes emergir e prosperar.

5 CONSIDERAÇÔES FINAIS

Os resultados apresentados neste trabalho sâo
consistentes com o modelo de governança proposto
por Jones et al. (1997). Ha evidências de que incertezas,
complexidade das tarefas e freqüência das trocas
demandam instrumentes de coordenaçâo (acesso
restrito, macrocultura, reputaçâo e sançoes coletivas).
Constatou-se, pelos relatos dos associados e do atual
gestor, que a reputaçâo representa o mecanismo social
mais importante na rede. Trata-se de uma condiçâo
fundamental para ingresso de um novo associado e
permanência no arranjo, o que reduz as condiçoes de
incerteza e a manifestaçâo de comportamentos
oportunistas, além de favorecer o aumento da confiança
e a manutençâo do equillbrio entre os atores.

Destaca-se, ainda, que, apesar do estabelecimento
de sançoes, previstas pelo estatuto, a possibilidade de
sançoes sociais, como a ruptura dos laços de confiança,
parece exercer mais influência no comportamento dos
associados. Resulta, pois, em condutas socialmente
aceitaveis, assumindo maior importância do que as
penalidades formalmente contidas no estatuto. Isso reforça
a inserçâo da componente social no ambiente da rede,
visualizada, muitas vezes, tanto na literatura quanto pelos
praticantes, apenas como um caminho de expansâo e
melhoria da competitividade, isto é, com ênfase
exclusivamente nos aspectos econômicos.

Outro aspecto que merece atençâo é a restriçâo da
autonomia individual que, mesmo nâo estando presente
no modelo de Jones et al. (1997), emergiu na pesquisa como
um mecanismo de controle empregado pela rede, exercendo,
assim como os demais instrumentos de coordenaçâo, o
papel de salvaguardar as trocas em meio à complexidade e
à incerteza. Por um lado, este controle estimula a distribuiçâo
justa de beneficios, mas, por outro, abre a chance para o
surgimento de comportamentos oportunistas, caso o ator
obtenha as vantagens e nâo as comunique na rede para
negocia-las em prol dos demais indivlduos.

A existência de diversos elementos contraditorios
se coaduna com a propria dinâmica da rede. Mesmo com a
presença de reputaçâo, macrocultura e confiança entre os
atores, ha a possibilidade de ocorrência de conflitos,
assimetrias de poder e comportamento oportunista. As
contradiçoes encontradas na investigaçâo se apresentam
como o grande desafio teorico e pratico no estudo e na
gestâo das redes interorganizacionais. Tais elementos
coexistem em um espaço caracterizado pelo jogo politico
em que os mecanismos de controle social tentam, de alguma
forma, salvaguardar as trocas e reduzir a complexidade
desses relacionamentos.

Novas pesquisas poderiam, a partir dos resultados
apresentados neste trabalho, investigar outros aspectos
da complexa estrutura na qual se inserem as redes. Nesse
sentido, sugerem-se alguns questionamentos: como
surgem os mecanismos de controle sociais dentro das
redes? Quais sâo as formas de regulaçâo das atividades
dos atores nas redes?

A presente pesquisa contribuiu nâo somente para
demonstrar como os mecanismos de governança sâo
empregados no arranjo, mas também oferece uma
perspectiva da analise da estruturaçâo da rede, suas
relaçoes horizontais e a dinâmica do processo de
governança. O estudo da rede, a partir desta abordagem,
permitiu evidenciar que os aspectos sociais também sâo
importantes para a coordenaçâo do arranjo, retratando
que as relaçoes interorganizacionais sâo compostas por
elementos que nâo se reduzem apenas à esfera
econômica.

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÂFICAS

ANDRADE, J. A. Actor-network: uma traduçâo para
compreender o relacional e o estrutural nas redes
interorganizacionais? In: ENCONTRO NACIONAL DA
ASSOCIAÇÀO NACIONAL DOS PROGRAMAS DE POS-
GRADUAÇÀO EM ADMINISTRAÇÀO, 27., 2003, Atibaia.
Anais... Sâo Paulo: ANPAD, 2003. CD-ROM.

BALESTRO, M. V. Redes de inovaçâo e capital social. In:
ENCONTRO DA ASSOCIAÇÀO NACIONAL DE POS-
GRADUAÇÀO EM ADMINISTRAÇÀO, 28., 2004,
Curitiba.
Anais... Curitiba: [s.n.], 2004. CD-ROM.

Organizaçoes Rurais & Agroindustriais, Lavras, v. 8, n. 1, p. 58-70, 2006



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